O mês de setembro, quando o orgulho de ser gaúcho reascende ou se intensifica no peito de muitos por ocasião dos Festejos Farroupilhas, é o momento propício para refletirmos sobre a nossa postura e atitudes durante as comemorações que relembram uma Revolução que tinha como lema ideais tão nobres como Liberdade, Igualdade e Humanidade.
No Rio Grande do Sul, o culto às tradições dos nossos antepassados, evidenciado nesta época, se origina dos esforços de um grupo de jovens, liderados por Paixão Cortês, que em 1947 criaram o primeiro Centro de Tradições Gaúchas, ligado ao Grêmio Estudantil da Escola Júlio de Castilhos em Porto Alegre, com o objetivo de resgatar o patrimônio histórico e cultural do nosso estado.
Com a fundação do 35 CTG também surgiu o evento cívico Ronda Crioula - termo oriundo das vigílias noturnas que os peões faziam quando tropeavam o gado – que nada mais é que a guarda da chama crioula. Esse evento se repete desde então anualmente em todo nosso estado e além fronteiras, com o objetivo de exaltar às nossas tradições e à memória farroupilha.
Fiorin (2009), em seu livro Do Gaúcho ao tradicionalista: Imagem, Identidade e representação, afirma que a cultura pode ser entendida como um estilo de vida particular que as sociedades desenvolvem e que caracterizam, sendo transmitida de geração para geração, criando assim uma identidade cultural.
Assim, o tradicionalista de hoje tenta reviver e exaltar os feitos do gaúcho de antigamente, caracterizado como forte, aguerrido e bravo, mas e as gerações futuras terão bons exemplos para se espelharem quando hoje, principalmente durante as comemorações farroupilhas, lamentavelmente ainda vimos tanta deturpação da nossa cultura acontecendo, onde as manifestações ditas “culturais” se tornam mera desculpa para encontros que visam apenas o lucro e a bebedeira? Faz-se necessário refletir: O que realmente estamos comemorando? Qual é a identidade cultural que estamos deixando para nossos filhos e netos?
Com muita propriedade e conhecimento de causa, Odilon Ramos nos mostra esse lamentável cenário na poesia Espírito de Bento e nos deixa seguinte mensagem: “a tradição é uma prece para se rezar ajoelhado e o pago é um templo sagrado que o patrão nos oferece”.
De forma alguma afirmamos que as comemorações farroupilhas perderam sua essência, queremos apenas chamar atenção para situações que desvirtuam o real sentido da causa. Atualmente existem mais de 2500 CTGs no Brasil e outros tantos espalhados pelo resto do mundo, em grande parte deles se percebe um enorme esforço para resgatar de certa forma a alma de um povo em seus mais variados aspectos, fato esse que é reconhecido em todo o Brasil.
Portanto, conclamo a todos os tradicionalistas essencialmente gaúchos que nesses festejos farroupilhas 2012, que tem como tema: As nossas riquezas, tenham em mente e nos seus corações que a nossa tradição, nossa grande riqueza, consiste no respeito aos antepassados, no compromisso com a verdade, no amor a esse chão e, principalmente, na responsabilidade de deixar um bonito legado às futuras gerações.
Nenhum comentário:
Postar um comentário